06/11/2005

A grande mudança


"Este povo que é meu, por quem derramo
As lágrimas que em vão caídas vejo
Que assaz de mal lhe quero, pois que o amo,
Sendo tu tanto contra meu desejo!"
Luis Vaz de Camões in Os Lusiadas

Os Portugueses sempre se acostumaram a fazer lar em terras estranhas. Fomos nós que, sentindo-nos emparedados neste cantinho à beira mar plantado, nos lançámos às Descobertas, espalhando a fé, o império e as terras viciosas. Fomos nós que, esgotados os magros recursos de um país demasiado pequeno para tanta alma, não hesitámos em sentir dolorosas saudades da terra natal e da familia, para irmos buscar sustento a outras paragens das quatro partes do mundo. Os Portugueses viajam, é esse o seu fado. Talvez por isso nos faça tanta confusão o novo país em que estamos a viver. Um país em que os Portugueses são cada vez menos e os estrangeiros cada vez mais. Um país onde, a cada instante, nos cruzamos com africanos, brasileiros, eslavos, moçárabes. Não se entenda, das minhas palavras, que nutro qualquer espécie de racismo ou de xonofobia por esses neolusitanos que fazem já inapelavelmente parte do nosso quotidiano. Longe disso! Acho que Portugal precisa desse sangue novo para recuperar a ambição que vinha caindo em desuso. Tampouco vou cair na tentação, demasiado arreigada entre nós, de julgar o justo pelo pecador e de dizer que todos os africanos são ladrões, todos os brasileiros são vigaristas e todos os eslavos são mafiosos. Nada disso. Nessas comunidades há boas e más pessoas, como em todas as outras, e será a formação socio-cultural a marcar a diferença. Com o nosso racismo e a nossa xenofobia não causaremos senão um espirito revanchista. Com a marginalização desses emigrantes podemos estar a criar novos marginais - mas, no fundo, também podemos estar a fazê-los ao atirar Portugueses para o desemprego. O que tem isto que ver com os universitários? Poder-se-á nesta altura perguntar. Muito, respondo eu. É que se são já cada vez mais os estudantes de origem estrangeira nas nossas escolas, daqui a alguns anos tê-los-emos a invadir o ensino superior. Melhor será que nos vamos habituando...

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