07/08/2009

Desertificação: Portugal morto ou outro olhar do interior

Oleiros é um dos concelhos mais envelhecidos do país e da Europa. Terá cerca de 100 jovens para 400 idosos, segundo a especialista em Geografia Humana, Fernanda Cravidão, que aponta como casos idênticos Vila de Rei, Mação e Alcoutim. Para a professora da Universidade de Coimbra, uma escola reconvertida em capela mortuária representa «o Portugal morto materializado». «Tem essa carga simbólica. As escolas já estão a servir para centros de idosos, agora morgue é o fim da linha», exclama a especialista, com trabalho desenvolvido na área da geografia da morte. Porém, considera que se dramatiza demasiado e que a solução passa por olhar para o interior de outra forma, tirando «partido daquilo que temos». «Aquele discurso de povoar o interior, subsídios para casais e coisas desse tipo, é tudo muito bem intencionado, mas não resulta. A mobilidade do interior para o litoral é desde sempre. Esse é um discurso perdido», afirma. «Tentar levar para lá a população que saiu é contra-natura» Para Fernanda Cravidão, pretender levar para os concelhos do interior os índices demográficos de há 20 ou 30 anos é «uma utopia». «O mundo rural deve ser encarado de outra forma hoje, como espaço de lazer, turismo de cargas brandas e agricultura biológica», exemplificou, defendendo que as crianças devem ser levadas das escolas das cidades para saberem o que é um pinheiro e como se cultivam as batatas. «Tentar levar para lá a população que saiu é contra-natura», diz, referindo-se ao desenvolvimento de uma sociedade industrializada, consumista e globalizada, que não está disposta a abdicar de um modo de vida onde tudo é de acesso fácil. «O censo de 2011 o que nos vai mostrar é uma diminuição da população e julgo que também vai mostrar que continuam a desaparecer pequenas aldeias em favor da capitalização de muitas sedes de concelho», antecipa.
E as causas do despovoamento? No mesmo sentido, antevê um envelhecimento cada vez maior, «sobretudo nesses concelhos: Oleiros, Mação, Sertã e um aumento das sedes de concelho devido a um efeito de sucção das áreas à volta». «Oleiros, sede de concelho, poderá ter perdido menos habitantes ou estabilizado nos últimos anos, mas à custa de uma certa sucção das áreas envolventes. Terá lugares que terão menos 50 por cento da população», indica. As causas do despovoamento são remotas. Dificilmente um país de reduzidas dimensões e fracos recursos passaria incólume por uma vaga de emigração para a Europa e uma guerra colonial, a que se sobrepôs uma mobilidade para o litoral, nos anos 60, que ainda não parou. Concelho perdeu 14 por cento da população A criação de universidades e institutos politécnicos no interior do país, a seguir ao 25 de Abril, travou um pouco a perda de população em Castelo Branco, Covilhã, Vila Real, Montalegre, Viseu e Bragança, bem como o regresso de pessoas das ex-colónias. A investigadora admite que, tal como os outros, o concelho de Oleiros terá perdido população desde os anos 50/60. «Tudo leva a crer que a população no concelho seja menor em 2009 do que em 2001», refere, acrescentando: «Esses concelhos perdem população, não porque as pessoas se vão embora - porque já não há gente para sair -, mas porque os idosos morrem.» Em 2001, o concelho tinha 6.677 habitantes. A estimativa publicada em Março de 2008 apontava para 6.552. Entre 1991 e 2001, perdeu 14 por cento da população (mais de mil pessoas). No mesmo período, os concelhos que registaram maiores perdas foram São Vicente (19,5 por cento), Boticas (19,1), Penamacor (18,0), Alcoutim e Montalegre (17,5), Gavião e Vila Velha de Ródão (17,4), Carrazeda de Ansiães (17,2), Vinhais (16,4), Meda, Almeida e Mação (16,1), Castanheira de Pêra (16,0) e Vimioso (15,9), segundo dados cedidos à Lusa pelo professor João Luís Fernandes, da Universidade de Coimbra.
in - http://diario.iol.pt/sociedade/desertificacao-interior-idosos-oleiros-envelhecimento-tvi24/1053099-4071.html

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