02/08/2010

Entrevista com...Luis Antero

No seguimento das entrevistas que tenho vindo a levar a efeito aqui no blogue a pessoas que se dedicam à cultura, ao social, ao desporto aqui na região de Seia e não só, é hoje a vez de publicar a conversa com Luis Antero, residente em Oliveira do Hospital, com ligações familiares à bonita aldeia de Alvoco de Várzeas e que nos seus tempos livres se dedica à música e mais recentemente se dedica a recolher/gravar sons no exterior. Ao Luis Antero de quem sou particular amigo agradeço a entrevista concedida na certeza que é uma mais valia para os leitores descobrirem um pouco mais sobre este género de projectos que por cá no interior do País também já vão aparecendo. Nós aqui no interior do País temos tudo o que há nas grandes cidades e acima de tudo temos gente inteligente, dedicada e interessante que vai enriquecendo e cativando cada vez mais gente a visitar a nossa região.
Dados Biográficos
Data de nascimento: 25 Agosto 1974
Onde reside? Oliveira do Hospital
Que escolas frequentou? Escola Secundária de Oliveira do Hospital / Instituto Superior Miguel Torga / CEFA / Universidade Aberta
LS – Luís Antero explique-nos afinal o que é isto de gravações de campo e em que País é que este género de trabalho nasceu?
LA – Bom, gravações de campo são, basicamente, gravações realizadas no exterior de um estúdio de gravação. Este método é também conhecido por fonografia, ou seja, o registo de sons presentes na natureza e não só. Relativamente ao país de origem das gravações de campo, é um pouco difícil dizer com certeza absoluta qual. Prefiro avançar com a ideia que as gravações de campo surgiram com a introdução do som no cinema, especialmente aquele dedicado e que servia de apoio à Antropologia Visual (envolvendo a parte sonora, claro). Nos anos 60 do século XX, com a crescente produção de mais e melhores equipamentos de gravação, o fenómeno das gravações de campo ganhou bastante popularidade.

LS - A partir de que momento decidiu dedicar uma parte da sua vida às gravações de campo e em que é que se inspirou?
LA – Comecei a dedicar-me às gravações de campo no Outono de 2008. A inspiração veio, fundamentalmente, do meio ambiente que me rodeia e da urgência em captar determinados sons, especialmente aqueles que poderão estar em vias de extinção (sim, porque os sons também se extinguem ou transformam), como certos cursos de água ou as sonoridades típicas dos poucos moinhos que ainda vamos tendo em funcionamento, assim como, já no âmbito das tradições orais, alguns apontamentos de pastorícia ou histórias populares de algumas aldeias da nossa região...
Outras fontes de inspiração foram o filme Sounwalkers, da Raquel Castro, e o trabalho sonoro do Chris Watson. O filme da Raquel é uma profunda e pedagógica obra sobre a arte sonora e sobre os sons que nos rodeiam e como isso pode influenciar o nosso dia-a-dia e consequentemente a nossa vida. Neste âmbito, deve ser realçado o fantástico trabalho realizado por Murray Schafer, no Canadá dos anos 60, sobre estas questões. Foi ele que introduziu o mundo no conceito de soundscape (paisagem sonora) e criou o Worl Soundscape Project, como forma de avaliar e criar uma espécie de ecologia sonora ideal... O Chris Watson, outrora músico nos Cabaret Voltaire, foi o primeiro artista sonoro que conheci no âmbito das gravações de campo e imediatamente me tocou de uma forma muito positiva, levando-me de imediato a querer comprar um gravador para iniciar as minhas gravações.
Com a ajuda da Raquel e do Rafael Toral comprei o gravador digital Zoom H4 e comecei a desenvolver este projecto.
LS – Onde podemos ouvir alguns dos seus trabalhos nesta área?
LA
– Nos seguintes sites e páginas web:
http://www.luisantero.yolasite.com/ www.myspace.com/luisantero
http://www.sonsdealvoco.yolasite.com/
Criei ainda a netlabel Green Field Recordings para edição de outros fonografistas, contando já com 10 edições no seu catálogo, a que podem aceder através do endereço
http://www.greenfieldrecordings.yolasite.com/

LS – Quais os sons que dão mais trabalho a recolher/gravar e quais os equipamentos que utiliza?
LA
– Os sons não são difíceis de gravar, pelo menos ainda não senti verdadeira dificuldade. Por vezes, o mais difícil é chegar aos locais onde os sons se encontram. Existem sons completamente revestidos de mato (risos). No ano passado tive muita dificuldade em recolher sons na zona do Aguincho, concelho de Seia, devido ao mato existente nas zonas onde pretendia gravar. Atravessei campos de cultivo completamente abandonados e mal tratados para chegar aos sons que pretendia recolher. Infelizmente, este é um cenário muito comum na nossa região e, obviamente, um pouco por todo o país.
LS – Já editou algum trabalho nesta área? Qual?
LA
– Sim, vários até, em netlabels nacionais e internacionais. A minha discografia pode ser encontrada no seguinte endereço:
http://luisantero.yolasite.com/discografia.php
Basta clicar nos links para fazer o download legal e gratuito dos meus trabalhos sonoros nesta área.
LS – Há mercado para este género de trabalho em Portugal?
LA
– Bom, até à data ainda não editei nada numa editora física, somente em netlabels, que fazem a apologia da música livre e onde existe um verdadeiro interesse sobre gravações de campo.
Mas a algum tempo atrás tive uma proposta muito interessante com vista à comercialização do meu trabalho. Vamos ver como corre...

LS – Além das gravações de campo o Antero faz parte de alguma banda? Qual?
LA
– Tenho um projecto a solo de música exploratória/experimental de nome Out Level. A guitarra eléctrica e as suas várias potencialidades é o instrumento de base composicional deste projecto, onde misturo também gravações de campo alteradas, electrónica e alguma poesia beatnik. Todos os conteúdos desse projecto podem ser encontrados no site http://www.outlevel.yolasite.com/
LS – Fale-nos um pouco sobre a Radio “O coleccionador de Sons” e sobre o projecto “tradições orais”.
LA – O Coleccionador de Sons é um programa de rádio quinzenal que tenho na rádio Zero, do Instituto Superior Técnico de Lisboa. É um programa totalmente dedicado e preenchido com gravações de campo, onde misturo recolhas originais com recolhas de outros fonografistas espalhados pelo mundo. É um trabalho que me dá especial prazer realizar. Colocar, em 57 minutos de programa, sons de várias proveniências, de vários países e fazer com que aquilo funcione em termos conceptuais e estéticos é muito interessante e motivador. Com O Coleccionador de Sons pretendo também dar a conhecer o trabalho dos artistas sonoros no âmbito das gravações de campo, sendo essa, também e obviamente, uma razões para se fazer rádio. Todas as emissões podem ser encontradas, para escuta e download, no seguinte endereço:
http://luisantero.yolasite.com/o-coleccionador-de-sons.php
Para já, em termos de tradições orais, elas ocupam somente uma página no meu site, mas já com 40 registos -
http://luisantero.yolasite.com/tradies-orais.php
A ideia é recolher depoimentos, histórias, ladainhas, orações, lendas, etc., ou seja, particularidades da tradição oral presentes na nossa região. No site que dedico a Alvoco das Várzeas –
http://www.sonsdealvoco.yolasite.com/ – podem também escutar algumas destas tradições. Pretendo, no caso de Alvoco, com toda a sua riqueza nesta área, elaborar um trabalho mais intenso...
LS – Se algum dos leitores desta entrevista o quiser contactar como deve proceder?
LA – Muito simplesmente através dos seguintes endereços de correio electrónico:
fonoantero@gmail.com ou aminhaguitarraazul@gmail.com

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