O documentário não tem cumprido com o seu papel de intervenção política e é «urgente» relembrar a sua «força», numa altura de «grande conturbação política e social», frisa a programadora da mostra Panorama, apresentado hoje.
Em declarações à agência Lusa, Inês Sapeta Dias antecipou um pouco do Panorama - 5ª Mostra do Documentário Português, que vai decorrer de 1 a 10 de Abril e cujo programa foi apresentado hoje no Cinema São Jorge, em Lisboa, onde decorrerá o evento.
«Os documentários, e o cinema em geral, são cada vez menos politizados, menos assumidos», lamenta a programadora, vincando que este é «o ano certo» para se fazer a pergunta de fundo do Panorama deste ano – «Como se relaciona o documentário português com o mundo de hoje?» –, até «pelo que se está a viver neste momento, a nível social, em Portugal». O documentário, realça, «não tem mantido» uma intervenção política e, portanto, é «urgente relembrar que o documentário tem, pode ter, esse papel», porque é «nos momentos de grande conturbação política e social» que «o documentário se torna o género cinematográfico por excelência», sustenta Inês Sapeta Dias. A organização do Panorama considera que «é urgente perguntar ao documentário que armas tem e que armas utiliza para alterar e questionar o mundo onde aparece». Na programação central da mostra estão previstas algumas estreias, nomeadamente «Emboscada por Dez Lados», de Vítor Jorge Alves (2010), «Golden Dawn», de Salomé Lamas (2010), «IP3», de José Costa Barbosa (2010), «A Banana do Pico», de Luís Bicudo (2010), e «Cátia Sofia», de Miguel Clara Vasconcelos (2010). Já a rubrica «Percursos no Documentário Português» propõe a revisitação do cinema no pós-Abril, durante o PREC (Processo Revolucionário Em Curso), período em que há um cinema «em cima do momento de mudança». «São filmes feitos muito a quente, em que se sente uma urgência enorme, não só de tratar o que está a acontecer, de ir para a rua filmar os vários acontecimentos, (…) mas também de querer ser acontecimento, querer acompanhar e ser mudança. São filmes muito implicados politicamente e interventivos, que querem não só documentar, mas também alterar o rumo das coisas», analisa Inês Sapeta Dias. A preocupação dos documentaristas daquela época não está em «servir uma ideia de ficção, muito facilmente controlável por uma ideologia ou por um Estado», mas em «filmar a realidade e isso ser, para eles, uma forma de resistência e de intervenção». A sessão de abertura caberá a «Cenas da Luta de Classes em Portugal», de Philip Spinelli e Robert Kramer (1976), e ao longo da mostra estão previstos vários debates com os realizadores.
Conheça toda a programação em www.panorama.org.pt.
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