07/08/2012

Aos 70 anos, Caetano Veloso ainda é “uma força criativa notável”

Em 1967, em “Domingo”, o seu disco de estreia, dizia. “Meu coração não se cansa de ter esperança de um dia ser tudo o que quer.” Hoje, aos 70 anos, já “organizou” um moviment
o, cantou, representou, escreveu. Para muitos músicos, é "uma referência e uma inspiração".Caetano Emanuel Vianna Telles Veloso nasceu a 7 de Agosto de 1942, em Santo Amaro da Purificação, uma pequena cidade do Recôncavo Baiano, próxima de Salvador. Faz esta terça-feira 70 anos e é considerado uma das figuras mais importantes da música popular brasileira contemporânea.
A paixão pela música surgiu quando ainda era criança, aprendendo os primeiros acordes no violão com a irmã Maria Bethânia, a quem escolheu o nome, depois de ouvir centenas de vezes a música “Maria Betânia” de Nelson Gonçalves. Nesta época, cantava apenas para entretenimento familiar, porém a vida reservava-lhe palcos maiores.
Em 1967, editou o primeiro álbum, “Domingo”, que mostra uma ligação à bossa nova, mas na contracapa Caetano avisa: “Minha inspiração agora está tendendo para caminhos muito diferentes dos que segui até aqui". Com os músicos Gilberto Gil, João Gilberto, Gal Costa e Tom Zé, de quem se tornou amigo, fundou o movimento tropicalista, rompendo com as tradições da música brasileira.
“Eu organizo o movimento”, canta Caetano na canção-manifesto “Tropicália”, no disco com o mesmo nome. “Foi um grande abanão, uma ‘geleia geral’ como lhe chamou Gilberto Gil”, explica ao PÚBLICO o músico português Sérgio Godinho. "Juntou os sons primitivos, a confusão dos estilos da Bahia e teve no Caetano uma das figuras importantes”, acrescenta.
Em 1969, em plena ditadura militar de Garrastazu Medici, Veloso e Gilberto Gil foram exilados para Londres, onde permaneceram até 1972. A alegria do regresso ao Brasil não passou despercebida a Jorge Ben na canção “Alegria Alegria”, a que Maria Bethânia emprestou a voz e o entusiasmo: "Lá vem o mano, o mano Caetano / Ele vem sorrindo, ele vem cantando / Ele vem feliz pois ele vem voltando".
Foi por volta desta altura que Godinho se cruzou com Caetano pela primeira vez. Anos mais tarde, em 2001, convidou o brasileiro para participar no ábum “Irmão do Meio” e este escolheu cantar “Lisboa que amanhece”. “A canção falava sobre Lisboa, mas o Caetano deu-lhe um tom tão pessoal que a canção parecia dele. Ele tem essa capacidade, não imita ninguém”, recorda.
Sérgio Godinho lembra-se das conversas com Caetano que eram sempre “frutuosas, soltas e naturais”. “E podíamos estar a falar sobre assuntos interessantes ou só a dizer ‘bobagem’”, diz o músico.
Nas décadas de 80 e 90, Caetano Veloso continuou a gravar e a produzir discos, destacando-se "Outras Palavras", "Cores, Nomes", "Uns" , "Velô","Circuladô" ou "Tropicália 2".
Aliou à música o gosto pela literatura e pelo cinema. Editou os livros "Verdade Tropical" (1997), “Letra Só” (2003) e “O mundo não é chato” (2005) e participou nos documentários “Os Doces Bárbaros” (1977) e “Coração Vagabundo” (2009). Em 1986, assinou ainda a realização do filme “Cinema Falado”.
Criou também a banda sonora para filmes como “Fala Com Ela”, de Pedro Almodóvar, ou “Frida”, que o levou a actuar na 75ª Cerimónia de Entrega dos Óscares, em 2003.
Com canções gravadas em português, espanhol, inglês e italiano, foi premiado com 5 Grammys Latinos e considerado pelo jornal americano The New York Times como “um dos maiores compositores do século”.
A fadista portuguesa Ana Moura, habituada a ouvir música brasileira desde criança, não podia estar mais de acordo com esta classificação. “Em miúda ouvia muito Chico Buarque, Milton Nascimento e Caetano Veloso”, conta ao PÚBLICO. “O Caetano é uma referência para mim e uma inspiração, apesar de num estilo diferente”, acrescenta.
in-jornal Público.
ENSAIO/CAETANO VELOSO

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