09/10/2008

Da tasca ao salão

“Há que acabar com a necessidade de dar ‘emprego político’ a quem apenas precisa da política para sobreviver”.
Seja entre um copo de três, uma cerveja ou um champanhe, os portugueses maldizem os seus políticos, assacam-lhes os piores defeitos e resumem-nos a um ‘governam-se’, tudo num juízo generalizado de que os políticos não nos governam, apenas se dedicam a tratar das suas vidinhas e sobretudo nunca dizem a verdade. É claro que o pensamento é generalizado e injusto – como todas as generalizações – para aqueles que servem e se dedicam à política com verdadeiro sacrifício das suas vidas pessoais e profissionais. Mas a verdade é que o paradigma passou a ser o de que ter actividade política é igual a ter cadastro. Tornou-se uma presunção. Por isso é que era e é tão importante (re)credibilizar a classe política e dar sinais concretos dessa linha de actuação, não numa lógica de puritanismo político ou no âmbito de uma visão de ‘judicialização política’ mas sim de exigir referências de actuação e de dar garantias à população de quem são os seus representantes. E 2009 é amanhã: esses sinais têm de ser dados. As escolhas devem gerar confiança na população (não escrevi eleitorado de propósito). O elemento confiança passa por perfis de credibilidade e pela recusa de pactos implícitos ou explícitos com o facilitismo, a falta de rigor ou o deslumbramento com o poder que tantos tem perdido. Há que acabar de vez com a necessidade de dar ‘emprego político’ a quem apenas precisa da política para sobreviver, numa visão de clientelas ou suporte de vaidades de que o País já não pode, definitivamente, nem ouvir falar. A verdade é que não podemos entregar-nos às inevitabilidades, temos de fazer com que a participação política não decresça, porque dela depende a nossa vida quotidiana e a qualidade da nossa Democracia (sermos mal ou bem governados, com seriedade, competência e verdade é falar de um País com rumo, planificação e rigor, ainda que em tempos difíceis, o contrário é navegar ao sabor das marés e de venialidades). É preciso coragem – muita – é evidente, para acabar com as más práticas políticas, mas esse é o caminho, porque a manutenção do pântano já não é aguentável. Para que valha ou definitivamente não valha a pena e para que tantos não continuem a afastar-se. Como escreveu Alberoni num recente artigo de opinião: "Aqueles que agiram bem acabam por ser apoiados, por ter um qualquer reconhecimento e a dor não será a única paga que recebem."
Na vida, como na política.
Paula Teixeira da Cruz, Advogada

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