31/08/2008

Bandas Filarmónicas. De manhã está-se bem é na caminha...

Um dos maiores icones da expressão cultural das localidades são indubitavelmente as Bandas Filarmónicas. Algumas já passaram a barreira dos cem anos o que as torna embaixadoras da cultura e das sociedades onde se inserem. Em tempos quando não havia alternativas em demasia aos sábados à noite, não havia centros comerciais para se passear ao domingo, não havia tantos carros nem toda a gente tinha poder financeiro para os ter, não havia televisões em todas as casas e as pessoas tinham obrigatoriamente de sair de casa para irem ver o Eusébio jogar nos poucos cafés que as tinham, o convivio entre as pessoas era outro. Mais saudável? talvez. Era nesses tempos das poucas alternativas que as Bandas Filarmónicas alcançaram o seu apogeu e era ver bandas com executantes acima dos 60,70 elementos. Era um regalo para a vista e para o ouvido ouvir tanto instrumento e tanta gente a executar sem desafinar. Na actualidade a realidade mundial e local é bastante diferente. As Bandas Filarmónicas lutam contra a falta de executantes. Os jovens prendem-se em demasia à internet, às discotecas ao sábado à noite, às saídas de carro, já nem pelo desporto têm o gosto que havia noutros tempos. A música não atrai a juventude não só porque não se interessam por essa grandiosa expressão cultural e dos povos, como também não estão para deixar de fazer as suas saídas e as suas diversões para assumirem o compromisso de no domingo de manhã estarem aptos a representar a sua terra, o seu concelho e até o seu País porque "de manhã está-se bem é na caminha". Não trocam nada pelo divertimento. Cultura musical é hoje uma "coisa" que não vale a pena investirem porque não lhes dá nada financeiramente. A sociedade mesmo a do interior do Pais está cada vez mais individualizada, mais capitalista e mais egoísta e quem perde é a cultura. Nos anos 20,30,40 e 50 os executantes das Bandas Filarmónicas deslocavam-se a pé de terra em terra com gosto porque iam actuar e levar o nome da sua terra a outras e isso nessa altura era um orgulho, mas iam também muitas das vezes porque era nessas festas que comiam alguma coisa de jeito que devido à pobreza e ao facto das famílias serem muito numerosas, durante a semana não tinham essa possibilidade. As dificuldades porque muitos passaram é que ainda hoje levam alguns dos executantes de algumas bandas a seguirem esta via mais em respeito pelos seus antepassados que propriamente pelo gosto da música, no entanto, conheço muitos que os seus antepassados foram grandes impulsionadores das filarmónicas mas nem isso os move para voltarem a juntar-se ao grupo porque metem em primeiro lugar valores monetários que como é óbvio nos tempos que correm não é fácil para qualquer filarmónica "profissionalizar" os seus elementos ou qualquer coisa parecida com isso. Com as vicissitudes e hábitos cada vez mais avassaladores das sociedades não tenho dúvidas que as bandas filarmónicas serão cada vez mais "coisas" do passado, infelizmente.

2 comentários:

O Micróbio II disse...

Não batam mais no ceguinho...

Anónimo disse...

Bem ,começo por dizes que sou musico de uma banda filarmónica e também musico profissional.
Não podia deixar passar a oportnidade de escrever algo sobre as Bandas Filarmónicas. Tenho 32 de toco na Minha Banda desde os 10 anos de idade. Iniciei os meus estudos musicais na banda e prossegui estudos na escola superior e na universidade de Aveiro. As Bandas filarmonicas do nosso País sao cerca de 800, isto diz nos alguma coisa! É verdade que os jovens hoje em dia têm outros divertimentos, mas na minha opinião as bandas estão num caminho crescente e com maior qualidade artística. Uma situação que a mim me deixa trite é que ainda não são reconhecidas como agentes culturais por muitas comissões de festas. As bandas são a cultura de um povo que a meu ver carece de subsidios e de apoios por parte dos orgaos maximos do nosso país. Não deixem morrer este bem precioso...
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