Ti Zé Camilo é o único enramador de cajados da região da Guarda.
José Camilo, 77 anos, residente em Fernão Joanes, no concelho da Guarda, é o único pastor da região que enrama (enfeita) cajados e produz chavelhas, artefactos usados para prender as campainhas e os badalos no pescoço dos animais, enquanto pastoreia o rebanho.O pastor, conhecido na região por Ti Zé Camilo, orgulha-se de “ter dedo” para a arte de enramar cajados (paus para defesa do pastor e condução do rebanho), que “descobriu por acaso”, quando um dia, já lá vão muitos anos, pegou num cajado e começou a decorá-lo “com aquilo que me vinha à cabeça”.“Sempre fui pastor, ando com as ovelhas desde garoto, desde a idade de 13 anos”, contou, referindo que a entrega à pastorícia foi de tal ordem que nunca foi à escola. “Andei sempre a guardar as ovelhas e não aprendi a ler nem a escrever, apenas sei fazer o meu nome”, disse.Num dos cajados – que pode ser visto na exposição “Memória das Coisas”, patente ao público até 31 de Agosto na Galeria do Paço da Cultura, na Guarda – gravou a era de 1971, aves, flores, espigas, um coração e desenhos com que são decoradas as ovelhas quando são tosquiadas manualmente. “Fiz muitos cajados. Uma vez enramei um que ofereci para Folgosinho (Gouveia). Fui à festa da Senhora da Assedasse e logo que vi a capela, fi-la no pau”, conta, garantindo que nos paus, com cerca de 1,60 metros, “fazia o que me vinha à ideia e à lembrança”.Aos 77 anos ainda desempenha a profissão que abraçou, guardando 34 ovelhas e 6 cabras. Contudo, devido à “falta de vista” já dedica pouco tempo à arte de enramar os cajados. “Mas ainda lhe dou o jeito”, afiança.Diz que o segredo está “no pau e na navalha, porque nem todos os paus servem. Os paus de freixo é que são bons, porque são moles. O melhor de todos é o pau de ládão”.O cajado “é enramado quase até ao meio” e o tempo que leva a “trabalhar” não pode precisar: “Como fazia isto por distracção, nunca me preocupei a contar o tempo, porque era uma maneira de passar as horas mais depressa”.José Camilo afiança que já é o único enramador de cajados da região. “Havia um rapaz em Fernão Joanes que também fazia mas nunca encontrei outro pastor que soubesse fazer isto”, garantiu.Contou que começou a decorar os cajados “há mais de 50 anos” e “por acaso. Um dia arranjei um pau e comecei a experimentar fazer pequenos cortes e desenhos. Gostei daquilo e continuei a enramar tudo, como é dado. Nunca mais parei”.
in - a guarda
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