19/12/2006

Entrevista exclusiva com...Lauro António


Uma vez que nem todos os leitores do blogue são assinantes do Jornal "A Partilha", e, porque na última edição decidi entrevistar Lauro António, conceituado critico de cinema e Director Técnico do Festival CineEco, não resisto em publicar aqui partes dessa mesma entrevista uma vez que tenho leitores de todo o País que através de e´mail já demonstraram interesse em a ler. O próprio Lauro António solicitou-me a entrevista para colocar no seu blogue.

Como vem sendo hábito ao longo das edições do Jornal, e, após entrevistas a várias figuras públicas de âmbito nacional e internacional, “A Partilha”, nesta edição, tem a honra de publicar mais uma grande entrevista, desta vez com o cineasta português, Lauro António. Enquanto Director Técnico do CineEco, acedeu dar-nos uma ENTREVISTA EXCLUSIVA em jeito de balanço sobre a 12.ª edição do Festival deste ano que terminou há poucos dias, bem como, levanta um pouco o véu do que gostaria que fosse o CineEco em edições futuras.
Luis Silva (LS) - Onde e em que ano surgiu o convite para ser Director Técnico do CineEco?
Lauro António (LA) - Foi em fins de 1994, inícios de 1995. Recebi um telefonema de uma agência de publicidade que estava a tratar do lançamento do Festival. Eles não sabiam nada de cinema, mas perguntavam-me se podiam dar o meu nome para dirigir o Festival. Disse que sim, e que logo se veria o que poderia dar. Fui a Seia falar com uma comissão magnífica, composta por pessoas que me fascinaram logo, e de quem, desde essa altura, sou amigo. O Presidente da Câmara, Eduardo Brito, o Carlos Teófilo, o Nuno Santos, a Angelina Barbosa, o Mário Jorge Branquinho…
LS - Quem é que o abordou na altura para o efeito?
LA - Quem me abordou, como elemento da Agência de Publicidade que tratava do lançamento do Festival, foi a Paula Bobone, que me conhecia dos tempos da faculdade, onde fôramos colegas. Ela sabia que eu dirigira outros festivais e tinha plena confiança em mim.
LS - O que representa para si ser Director Técnico num festival como oCineEco, inserido num meio do interior do País?
LA - Uma aposta na dificuldade. Um desafio. Eu gosto de desafios difíceis e gosto do interior de Portugal, acho que está mal servido culturalmente e faço tudo para melhorar na medida das minhas possibilidades. Esta é uma delas.
LS - Ao longo das edições do CineEco houve algum ano em especial, que tivesse mais significado para si? Porquê?
LA - Cada ano é uma novidade, um desafio, cada ano fico mais ligado a este festival. Globalmente, foi um ano fortíssimo na competição, um ano de confirmação plena, um ano de um ambiente humano magnífico.
LS - Como é que é feita a selecção do júri?
LA - Ao longo do ano vou analisando possibilidades e depois vejo quais as disponibilidades de cada um. Um Júri tem de ser diversificado, competente, que dê bom viver entre si, que imponha respeito aos concorrentes e ao público. Credível, honesto, isento. Assim tem sido.
LS - Existem critérios para a votação dos filmes? Quais?
LA - Critérios de votação é com cada Júri, cada Presidente. Eles definem, em total liberdade, como irão funcionar. À direcção do Festival interessa apenas que vejam os filmes e sejam honestos e isentos e que no final do festival nos ofertem uma acta de Júri. Assim tem sido.
LS - Este ano a conhecida Lili Caneças foi alvo de críticas por fazer parte do júri, nomeadamente porque diziam que não tem conhecimentos técnicos sobre esta matéria. Concorda com esta opinião, ou não, e porque é que convidou a Lili Caneças?
LA - Um falso problema. Um Júri é constituído por pessoas de áreas diferenciadas, de sensibilidades diversas. A Lili é uma sensibilidade que tem muito a ver com o que o público sente. De resto, o facto dela vir ao festival só foi positivo, tornou-o mais visível, e ela, que tem voz e é ouvida por tantos, ficou mais sensibilizada para os problemas do ambiente e para os poder abordar em futuras actividades públicas. Além disso, é uma mulher magnífica, de quem sou amigo.
LS - Houve mais interesse este ano por parte da imprensa nacional eregional em relação ao festival?
LA - Há um crescente interesse por este festival, tanto a nível nacional, como internacional. Devo dizer que é evidente que este Festival é um dos melhores e mais conceituados festivais de ambiente europeus.
LS - Este modelo actual é para manter, ou tem em vista aplicar novasmetodologias de gestão do festival?
LA - O problema é consolidar a metodologia, não modificá-la. Fomos, e temos sido, pioneiros, temos dado ajuda a outros festivais (no Brasil, em Cabo Verde…), o importante é ter melhores condições para transformar este festival num festival mais conhecido. Apenas isso. E falo em termos portugueses.
LS - O apoio financeiro dado pela autarquia foi o suficiente ou énecessário mais investimento e porquê?
LA - Tem sido o possível, não o necessário. Maior investimento sobretudo para publicitar o festival, para o tornar mais conhecido mais mediatizado. Convidar meios de comunicação social e realizadores a estarem presentes. Somente isso, o resto está não, diremos, perfeito, mas no bom caminho.
LS - Quando se faz um festival de cinema desta categoria como é o CineEco, alcança-se algum retorno financeiro, ou não é esse um dos objectivos?
LA - Não é esse o objectivo. Não se trata de ter retorno financeiro, mas retornos culturais, artísticos, cinematográficos, ambientais, turísticos.
LS - Este ano o grande vencedor do CineEco foi o filme "O ataque dotigre" do realizador russo Sasha Snow. Porquê este filme?
LA - Essa é uma pergunta para o Júri. Para mim, o grande vencedor seria “Carpatia”. Mas “O Ataque do Tigre” é um grande filme, premiado em diversos festivais. È também uma óptima escolha.
LS - Outro dos filmes vencedores, o que ganhou o prémio Lusofonia, foio "Ainda há pastores". Faço-lhe a mesma questão: Porquê esta nomeação?
LA - Foi unanimemente considerado o melhor filme em língua portuguesa, era uma revelação, e acabara de ser excluído do Doc Lisboa, onde não fora sequer seleccionado. Acho que foi uma boa escolha do Júri.
LS - O que ambiciona para as futuras edições do festival?
LA - Mais e melhor. Sempre.

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