É verdade que o turismo da serra vive da neve. Mas não é verdade que tenha que viver da neve, apenas da neve, não é verdade que tenha que viver principalmente da neve, sequer. No Gerês há turismo de montanha. Mas não consta que neve lá mais do que cá. Aliás, o Gerês está cheio de turistas, até (ou principalmente) no Verão. E não consta que, no Gerês, neve no Verão. De que vive o turismo no Gerês, já que não é da neve? De passeios pedestres; de passeios de bicicleta; de passeios a cavalo; de canoagem; de canyoning; de escalada; de termas; de natureza; de outras coisas de que não me estou a lembrar. Porque é que nós por cá não podemos viver também dessas coisas todas? Não será a nossa serra apropriada para alguma delas? Ou será que não as aproveitamos porque, como temos neve, nem pensamos nessas outras possibilidades? Penso que parte da resposta está aí. Mas não é só isso. De facto, no Gerês não há neve (ou não a há em quantidade que permita "viver da neve") e há turismo, mas noutras montanhas onde há neve, e mais até do que na Estrela, há também um turismo diversificado, no Inverno e no Verão. Nessas outras montanhas, apesar de nevar (e, repito, mais ainda do que na Estrela), não se vive só da neve, não se vive, sequer, principalmente da neve. De que montanhas estou a falar? Para não ir mais longe, da sierra Nevada, dos Pirinéus, dos Alpes. Essas montanhas estão cheias de turistas, também no Verão. E de que vive o turismo nessas montanhas, para além da neve? De passeios pedestres; de passeios de bicicleta; de passeios a cavalo; de canoagem; de canyoning; de escalada; de termas; de natureza; de outras coisas de que não me estou a lembrar. Ou seja, noutros lugares onde também neva, há turismo para além da neve. Porque será então que por cá vivemos da neve, apenas da neve? Posso estar enganado, mas suspeito que uma razão principal se prende com algo que temos cá, e que não existe em mais montanha nenhuma que eu conheça: uma concessão exclusiva do turismo e dos desportos (a da Turistrela), definida há mais de trinta anos (1971) e com prazo de validade por outros tantos ainda por vir. Passados trinta anos a pôr os ovos todos no mesmo cesto e a vê-los partirem-se no chão, era altura de se começar a perceber que não só o cesto onde os temos estado a pôr parece claramente estar roto, como se calhar (lá diz o ditado), era melhor usarmos muitos cestos, de diversas formas, feitios, e tamanhos. Ou então não. Continuemos no "Nós aqui vivemos da neve" com que tão bons resultados temos conseguido.
texto gentilmente retirado de:http://ocantarozangado.blogspot.com/
foto - luis silva
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