21/04/2009

O VINTE E CINCO DE ABRIL DE 1974

Trinta e cinco anos depois é ainda um dos amores da minha vida. Em cada ano que chega o alvoroço e a alegria dos idos de 74 sacode-me e a “divina surpresa” (Eduardo Lourenço) instala-se incrédula. Foi a revelação, que vivi com alguma frequência nas ruas e nas praças e nos estádios, na Aula Magna e nos anfiteatros do Técnico e da Faculdade de Letras e em outras Escolas, “sem sono”, noutras manifestações e assembleias, com requerimentos, pontos de ordem à mesa, ataques e contra-ataques, argumentos, insultos e ameaças, sequestros e exaltações, sem esquecer “Os dia loucos do PREC” (Adelino Gomes, José Pedro Castanheira, Abril 2006, Expresso/Público) – e as canções, muitas, muitas canções, Zeca Afonso, Manuel Freire, Francisco Fanhais, José Jorge Letria, José Barata Moura, Ermelinda Duarte e quantas e quantos mais. Recordando um artigo do Professor João Medina sobre o Maio de 68 posso dizer que também eu vi a revolução cara-a-cara, sentindo-lhe o perfume. Que permanece. E também permanece o cumprimento da promessa feita pelos homens do MFA no seu programa: democratizar, descolonizar, desenvolver. Se a democracia é o que cada um vê e sobretudo o que cada um diz, confere, outra coisa não seria democracia. Se a descolonização não foi exemplar há culpas anteriores que não podem morrer solteiras. Se o desenvolvimento é o que é nunca ele foi tão grande, e num período tão curto, em novecentos anos de História. No entanto, com a crise, a badalada crise, apenas diferente e com outra dimensão das já vividas durante estes trinta e cinco anos, e deu-se por elas parecendo que não (as questões do desemprego e de outras situações limite delas fizeram parte), a avaliação que ora se faz não é das melhores. Felizmente a culpa é dos políticos, ou do 25 do 4 de 74, que permitiu o aparecimento dessa bendita fauna sob a forma pluralista. Ora, os erros que cada um nunca comete podiam ensinar a melhorar o 25 do 4 de 74, de acordo com os propósitos iniciais, aprofundando a democracia e a sustentabilidade do desenvolvimento, e não deixar essas tarefas só para os políticos, surpreendentemente também portugueses. Aqui chegado, recordo um presidente francês (Raymond Poincaré?) aos seus generais: “a guerra é um assunto demasiado complexo para ser tratado por militares”. Parafraseio: a política é um assunto demasiado complexo e complicado para ser resolvido por políticos profissionais. Donde, a importância da participação de cada um em todos os sectores da res publica. Muitos cravos murcharam, aceitemos, a vida dos cravos como a nossa está sujeita a essa lei universal, e um deles foi a participação do cidadão vulgar de Lineu, como se diria no tempo em que andei no Liceu, e sem participação, nada feito, ou muito menos do que se poderia esperar, levando em consideração o facto de sermos acusados de relapsos nesta matéria. Também há erros que cometemos. Um deles, durante estes trinta e cinco anos, foi decerto a forma defeituosa como não envolvemos a juventude no conhecimento desta data. De outras datas também. Como quem diz da História de Portugal. Por falar em erros. Há uma coisa que eles têm de boa: a todo o tempo é tempo de os corrigir. Pelo menos a alguns. Não seria essa correcção uma “divina surpresa”?

Por: Luís Alves Martins

Sem comentários: