É a probabilidade de poder sobreviver por mais tempo que faz aumentar o número dos idosos em termos absolutos. As mulheres sobrevivem mais do que os homens e esse facto faz com que a velhice seja essencialmente uma velhice no feminino. Em 1998, 17,3% das mulheres tinham mais de 65 anos e apenas 12,9% dos homens tinha ultrapassado esta idade. E, se considerarmos a relação entre os grupos etários nos extremos da pirâmide etária, jovens e idosos, constatamos que por cada 100 jovens do sexo feminino existem já 109 mulheres com mais de 65 anos (INE, 1999). Estamos perante transformações estruturais que, quando associadas às mudanças de comportamento face à nupcialidade e à família, conduzem a configurações familiares bem distintas das que encontramos no passado. As trajectórias de vida mais longas e as perturbações das idades da vida afectam não só as consciências individuais como o modo como os indivíduos se relacionam na teia das relações estritas do seio familiar. As idades e os ciclos de vida sofrem perturbações que põem em causa o nosso conhecimento construído e a forma como ele interfere nas estratégias individuais e colectivas face à velhice e ao envelhecimento.Caminhamos seguramente para uma sociedade diferente da que conhecemos até agora e onde os padrões institucionais de actuação terão que se adequar às mudanças indeléveis proporcionadas pela revolução silenciosa do sistema demográfico. Mas serão os indicadores que utilizamos adequados para avaliar a evolução das estruturas demográficas e o peso do envelhecimento das populações? Até que ponto o limiar instituído e consensual a partir do qual construímos a categoria dos idosos, os 60 ou 65 anos, se adequa às características das sociedades modernas? A definição destas categorias decorre directamente da determinação oficial da idade de acesso à reforma, que é o resultado de processos históricos que envolvem conflitos entre o estado, as instâncias empregadoras e as organizações sindicais, representantes dos trabalhadores. Estas categorias oficiais, conhecidas e reconhecidas, conferem legitimidade às imagens e representações tradicionais de velhice construídas ainda num passado recente, onde indivíduos de 60 ou 65 anos teriam provavelmente alcançado a "idade da velhice".
(continua...)
1 comentário:
Já me sinto mais velho só de ler estes teus posts...
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