24/04/2006

25 de Abril de 2006

Ao contrário do que a maioria dos escritores faz por esta altura, serve este post não para relembrar o que foi o 25 de Abril de 1974 e tudo o que lhe antecedeu, mas sim para fazer uma análise sobre o estado do País hoje, chegados que estamos ao dia 25 de Abril de 2006. Passados que estão 32 anos é bom não esquecer os lastros ancestrais que não desapareceram com o 25 de Abril, alguns deles dos quais o País não se consegue "livrar" independentemente das "revoluções" que alguns queiram agora implementar. Como dizia recentemente Mário de Carvalho, ao nível da comunicação social, "assistimos hoje em dia ao fenómeno do jornalismo lacaio, sempre de libré, a lamber o chão do patrãozinho, a repetir a convenienciazinha, a vestir fatinhos caros, com gravatinha à maneira, ansioso por ir ao baile do patrão, reverenciador do capitalismo, manhoso e Chico-esperto a escrevinhar evidência, sem coragem e sem vergonha", jornalismo esse que durante anos e anos após o 25 de Abril deixou de lado muito desastre, deixou que lavrasse a maior impunidade, deixou que as ilicitudes, algumas delas nefandas, se fossem acumulando sem que ninguém as denunciasse e agisse? Como é que se continua a deixar que o poder e a autoridade de figuras públicas conseguisse e consiga prevalecer incólume em face das polícias, das leis e dos tribunais? Hoje que estamos a comemorar 32 anos do 25 de Abril, a corrupção mora aí ao lado. Não só a corrupção dos grandes negócios milionários, mas a corrupçãozinha múltipla, torpe, formigueira e amadora. O aumento da burocracia, que é um dos problemas mais centrais da nossa vida pública é considerado por muitos governantes como uma questão secundária. A propaganda reaccionária difundida por todas as fontes de opinião, a ausência de espírito crítico e a depreciação da cidadania que se alimentam do fado, futebol e Fátima, continuam a imperar na nossa Nação democrática e solidária. Actualmente continuamos a ser um País onde quem manda se vai entretendo com malabarismos arcaicos que visam o bem-estar pessoal e cada vez menos o bem-estar da sociedade. Somos um País que volvidos 32 anos da revolução dos cravos mantém expressões de menoridade. Os governantes continuam a ceder aos poderes de sistemas instalados, basta ver o que se passou recentemente com a polícia judiciária que a um dia ia ser dissolvida a sua organização para ser controlada de outra forma e ao outro dia, passadas 12 horas imperou o retrocesso sob ameaças de greves e afins, tudo isto devido às alterações que se anunciam no sistema jurídico, nomeadamente as leis que conferem ao Governo a capacidade de definir politicas de investigação criminal. Existem actualmente situações visíveis e públicas que nos dão um retrato de um País onde perdura o "manobrismo baixote, muito terceiro-mundista, muito pequenino, muito aproveitador e chupista que vem cobrindo todos os aspectos da vida institucional e social, como uma crosta pegajosa, por onde escorrem fios de veneno". Passados estes 32 anos da revolução, existem diferenças neste País? A burocracia baixou? A corrupção diminuiu? Os escândalos políticos e financeiros desapareceram? O que se constata cada vez mais é um retrocesso na melhoria das condições de vida dos portugueses e dos que cá moram através do aumento desenfreado de impostos e com salários baixíssimos que não fazem face ao aumento do custo de vida em que nos encontramos. Hoje, falar ou escrever sobre o 25 de Abril traz-me à memória os tempos em que o povo vivia da agricultura de subsistência, e quando os níveis de emigração para países africanos eram elevados, porque na realidade estamos a voltar a esses tempos que daqui a 20 anos vão trazer novamente à memória dos que cá estiverem os tempos da fome e das dificuldades que o nosso País teima em não querer esquecer passados que estão 32 anos. Por estas razões prefiro escrever sobre o 25 de Abril de 2006, porque continuarmos agarrados a uma revolução do passado sem olharmos ao presente faz de nós um povo arcaico e embrutecido, entretido com questões passadas que se afiguram no dia-a-dia como questões e problemas actuais os quais alguns tentam assombrar e tapar com a peneira como se nada fosse. Portugal continua um País pobre, embrutecido e com um nível critico muito baixo, preferindo esconder a realidade relembrando os factos e feitos passados de uma forma nostálgica e ultra conservadora, forma essa que tem de ser vista como penosa para a evolução e recuperação económica e intelectual deste País. Não podemos esquecer o passado, mas nesta data evitar falar do estado actual da Nação no presente seria um erro maior que o de Descartes.

3 comentários:

Anónimo disse...

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Daniela

O Micróbio II disse...

Já passou...

Anónimo disse...

Concordo com o que dizes e fazes um texto muito elucidativo sobre o Estado da Nação na tua perspectiva. Também concordo que aos poucos o 25 de Abril se vai esvaziando e a fé depositada nele há 32 anos já não é a mesma.E porquê? Muitas das respostas estão no teu texto..Abraço