02/04/2006

O editor nacional do Diário de Noticias anda a ler o meu blog

O recuo de Sócrates
Uma das marcas do Governo e do primeiro-ministro tem sido a de um exercício descomplexado de autoridade. Em contraste com outros governos anteriormente suportados pelo PS - claro que é de Guterres que falo e não sei se com alguma injustiça -, Sócrates está a habituar-nos a uma tomada de decisões em que nem entra o medo de afrontar interesses corporativos nem a hesitação quanto ao objectivo. À partida é de louvar a postura, apesar de algumas vezes se aproximar demasiado do mero exercício do poder. É que eu gosto de alguma abertura ao diálogo, apesar de o conflito nas sociedades democráticas modernas não me assustar, pelo contrário, até me entusiasma. Por isso, é de estranhar o recuo em cima da hora nas reformas que atingiriam a Polícia Judiciária. A direcção da dita protestou, ameaçou demitir-se em bloco e o Governo, reunido em Conselho de Ministros, acatou. E se Sócrates tivesse dado ordens para demitir mesmo a cúpula da PJ, o que poderia ter acontecido? Provavelmente o ministro da Justiça teria sido levado por arrasto, tomando a iniciativa de se afastar do cargo, uma vez que concorda com o protesto da PJ. Numa semana em que Sócrates apresentou o projecto de desburocratização, o tal Simplex, e o projecto de racionalização do Estado, o tal PRACE, a iminência de uma remodelação teria estragado a festa. E é sabido que o primeiro-ministro gere ao milímetro a sua agenda e nunca deixa ao acaso os dividendos que pretende tirar. Agora é um facto que Sócrates tem um problema que se chama Alberto Costa, que - é o destino - vai perder a guerra contra o outro Costa, António, que Sócrates acabará por apoiar. Pela simples razão de que o ministro da Justiça entrou em queda e a prova disso mesmo é o protesto da PJ. Se esta instituição tivesse a certeza de que o ministro tinha força para a defender, não teria tomado a posição que tomou. Na dúvida, ameaçou e ganhou tempo. Resultado de tudo isto: o ministro da Administração vai ficar com a parte de leão das informações do Estado. E será bom para nós, cidadãos? Tenho as maiores dúvidas.

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