O concelho de Seia é um dos mais envelhecidos do País. Arrisco dizer, com conhecimento de causa, que, para o mesmo número de idosos que residem em Lares, há outros tantos a aguardar uma vaga. Na parte nascente do concelho existem 11 lares de idosos, na parte poente, onde o n.º de habitantes é sensivelmente o mesmo, há apenas 2. As pensões dos "nossos" idosos rondam em média 200 euros. As mensalidades dos Lares rondam em média 550 euros. Vagas com acordos de cooperação, praticamente estão sempre preenchidas, sendo que os acordos no distrito da Guarda não são revistos há 3 anos, nem se augura que o sejam este ano. É necessário um debate e avaliações mais sérias sobre este assunto da velhice na nossa região. Proponho-me nos próximos dias a contribuir com algumas reflexões sobre o envelhecimento demográfico das populações e as profundas mudanças que este envelhecimento gera e pode gerar num curto espaço temporal.
Nos dias que correm é impreterível reflectir, de modo mais insistente, sobre os impactes do envelhecimento demográfico das populações e sobre as profundas mudanças que, simultaneamente, têm vindo a ocorrer nas sociedades industriais modernas, como é a nossa. Estas têm sido de tal forma rápidas e, em muitos casos, inesperadas, que necessitamos de permanente pesquisa e discussão. O debate — profícua fonte de inspiração — é, neste caso, essencial, na medida em que estudiosos e políticos se confrontam, muitas vezes, com diferentes modos de explicação do mundo. Os primeiros procuram interpretar os factos a partir de causas gerais sem nunca se misturarem com os assuntos em questão. Os segundos, que vivem por entre o descosido dos factos jornalísticos e a parcialidade dos acontecimentos em que estão envolvidos, tendem, geralmente, a reduzir a explicação global à singularidade da parcela do conhecimento que detêm. A definição de políticas de velhice, a partir de uma formulação mais rigorosa e objectiva dos problemas do envelhecimento e da análise exaustiva da diversidade de realidades sociais, poderá proporcionar as correcções necessárias para que as futuras gerações de idosos possam vir a viver melhor do que as que as antecederam. O problema social que representa a velhice nas sociedades modernas é um exemplo paradigmático da forma como certas perspectivas, científicas e não científicas, podem contribuir para o deformar através da difusão de ideias e representações já construídas do que é a velhice. As "pessoas idosas" — enquanto estereótipo socialmente produzido e facilmente reconhecível — enquadram uma categoria de indivíduos, cujas propriedades, relativamente homogéneas, são normalmente identificadas com isolamento, solidão, doença, pobreza e mesmo exclusão social. Nesta perspectiva comum, as pessoas idosas são consideradas como indivíduos isolados, permanecendo oculta a dimensão familiar da identidade, da existência. A lógica repousa na percepção da pessoa idosa enquanto agente de acção social apartado dos laços sociais inerentes à instituição familiar a que pertence e no quadro das relações tradicionais de amizade e de vizinhança. Esta avaliação, que decorre da posição que os agentes sociais ocupam relativamente às situações problemáticas — porque existem situações problemáticas de isolamento, solidão, doença e carências afectivas e materiais —, impõe-se com maior visibilidade social e, desse modo, adquire as condições para se apresentar como propriedade comum e dominante da categoria dos indivíduos denominados idosos. Em grande parte, tal facto deve-se a erros de perspectiva. Uma das formas de os ultrapassar é colocarmo-nos de modo diferente e, através de outros pontos de vista, observarmos a realidade com outros contornos, a partir de outras configurações. É esse o itinerário que pretendo aqui prosseguir.
1 comentário:
Não fales muito alto... caso contrário ainda atrais aqueles que optam sempre pela opção mais cómoda! E bem sabes que nestes casos (à semelhança do que aconteceu com outros) a opção mais válida nalgumas cabecinhas pensadoras é a morte... há velhos a mais e não há vagas nos lares? Eutanásia com eles!
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