03/05/2006

Agora ou nunca engenheiro

O Estado Português, como todos sabem, encontra-se disforme e abusivo. Não quero com isto dizer que devemos pedir a Sócrates que emende num ano o perverso trabalho de 30, muito menos se lhe pode pedir que programas como o PRACE ou o SIMPLEX produzam no imediato um efeito visível, até porque têm semanas de existência. Agora, com certeza tem de se pedir ao nosso primeiro e ao seu governo, consequência política. O primeiro-ministro entenderá que mesmo com a maior da boa vontade, a confiança não resiste quando há um forte aumento da despesa corrente primária, e em particular um aumento da despesa com pessoal, em parte atribuível à contratação exagerada de novos funcionários públicos. É assim que se chega ao pântano a que chegou António Guterres prometendo vezes sem fim medidas drásticas, para pouco a pouco acabar na paralisia. Sócrates que já teve fama de obstinado e duro que até parecia justificar, não tem mostrado sinais de recuo no caso da idade das reformas, das promoções automáticas, das maternidades, dos centros de saúde, da rede escolar e dos professores e muito recentemente tem mostrado e dá a impressão que perdeu a energia e a força contentando-se com um ou outro exercício de retórica e de muita propaganda. Não é fácil fazer o que se deve contra um país alvoraçado e cada vez mais pobre, passando por cima de muita gente sem culpa e sem defesa. Sócrates vacila como qualquer outra pessoa e tem receio de atrair sobre si a oposição de milhões. A frase "reduzir a despesa" não invoca por si um grande conflito. Na realidade é uma declaração de guerra à classe média e uma declaração de guerra a gerações de ingénuos que o Estado educou para o desemprego e para a miséria. Era bom para Sócrates e era bom para nós que o nosso primeiro decidisse cortar o presunto suavemente e sem dor, fatia a fatia, só que a Europa, o mundo, o tempo e a maré não estão com ele. Ou se decide agora ou se decide fatalmente tarde demais.

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