Uma recente investigação identifica mais de 1400 doenças causadas por micróbios em seres humanos. Destas, 175 são "doenças emergentes", desconhecidas até há pouco, setenta e cinco por cento das quais fizeram o salto de outras espécies para a nossa. Foi assim com a Gripe Espanhola, com a doença originada no vírus Hendra, possivelmente com a SIDA. Poderá sê-lo também com o H5N1, caso este consiga recombinar-se geneticamente de forma a ser transmissível entre humanos. O que há de novo é a emergência cada vez mais rápida de novas doenças, mesmo descontando a melhoria dramática nos meios de diagnóstico. Explicações? A vida de hoje, com a explosão dos transportes, do comércio global, do crescimento populacional e das mudanças ambientais é o cadinho perfeito para o aparecimento de novas doenças e para a amplificação dos efeitos das já conhecidas. No caso da gripe das aves e da sua transmissão a humanos, não será certamente indiferente o facto de no sul da China se terem vindo a secar sistematicamente os pântanos que eram o habitat natural das aves selvagens. Estas foram assim forçadas a procurar refúgio e alimento junto a explorações agrícolas, criando-se uma potencialmente perigosa interacção entre humanos, animais selvagens e domésticos. O mesmo acontece com outros vírus, ou outros agentes patogénicos. De tal forma, e em tal dimensão, que se diz que uma pandemia de dimensões catastróficas é inevitável. A solução, para alguns (cfr. http://www.alternet.org/envirohealth/33703/ - em que me baseei até agora), passa pela reparação dos danos feitos por nós à Natureza. Há outras explicações para a recente e universal preocupação com o H5N1. O governo tem previsões (de 8 a 10 mil mortes em Portugal e de 180 a 250 na Guarda) e planos de contingência, incluindo requisições de hotéis para instalação de camas hospitalares. Foram identificados os cem mil portugueses essenciais, em caso de crise. A única droga antiviral reconhecidamente eficiente, o Tamiflu, vai ser-lhes preferencialmente administrada. Eficiente? Há quem entenda que não. Está a circular um texto pela Internet (com origem em http://www.dsalud.com/editoriales_81.htm.htm) que liga os interesses pessoais do Secretário de Estado norte-americano, Donald Rumsfeld, ao recente sucesso do Tamiflu. Este fármaco foi, antes de serem cedidos os respectivos direitos à Roche, em 1996, criação e propriedade da Gilead Sciences Inc. (cfr. http://www.gilead.com/wt/sec/tamiflu). O actual Secretário de Estado era e é um importante accionista desta empresa, chegando a integrar, em 1997, o seu conselho de administração (cfr. http://www.gilead.com/wt/sec/pr_933190157/). De repente, fez-se luz em muitas cabeças: Rumsfeld, armas de destruição maciça no Iraque (não encontradas), guerra, notícias manipuladas sobre uma possivelmente exagerada pandemia, contra a qual apenas existe como arma o Tamiflu – com o qual Rumsfeld, que mentiu sobre as armas de destruição maciça, se prepara para ganhar milhões. O argumento é agradável, ao menos na sua construção (embora não explique, por exemplo, se Rumsfeld tem também interesses na Roche), e tem a vantagem de ver facilmente confirmados alguns dos seus passos. Ainda por cima, dizem alguns, o Tamiflu não tem tanta eficácia como se apregoa: se não consegue grandes resultados contra a gripe comum, porque há-de ser um remédio miraculoso contra uma ameaça tão mortal como o H5N1? Estará alguém a aproveitar-se da nossa credulidade?
SUGESTÕES
SUGESTÕES
Conselhos contra a Pandemia: mantenha-se saudável, que a doença é muito mais virulenta em organismos debilitados; faça exercício, tenha uma alimentação regrada, habitue-se a espirrar e tossir para um lenço. Um livro: History of the Twentieth Century (Martin Gilbert, 2001, publicado pela Harper Collins). Em 783 páginas diz muito pouco sobre Portugal, nada sobre o 25 de Abril de 1974 – ou sobre Soares, Cavaco, Cunhal. Duas páginas sobre Santana Lopes e uma sobre o Sporting. Agora estava a brincar, leitor. Não me diga que acreditou?
Por: António Ferreira
Por: António Ferreira
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