Uma história de vida

“Um homem que não arrisca nada pelas suas ideias, ou não tem ideias que valham... ou não vale como homem!”
Platão

Com este pensamento, apeteceu-me falar com o papel, como um desafio, onde a minha mente irá tocar pontos de referência no Mundo das emoções e dos sentimentos. Não de uma forma obsessiva, mal interpretada! Não! Muitas vezes temos medo de “falar” o que sentimos, medo das pessoas, do pensar e do agir! Porque nem tudo o que se escreve ou diz, é sempre bem interpretado! Hoje, mais de que nunca... talvez para dar um sentido lindo a uma data triste que aconteceu há seis anos... quero falar... mas tirar a mais bela lição de vida! Na realidade, nunca se chama amigo a uma pessoa que não se conhece ou ama. Muitos menos confundir um conhecido, uma pessoa simpática que nos atrai, por quem se sente estima.
A não-amizade, mal distorcida, por vezes fere as pessoas...
É tão fácil rotular, de tudo quanto é fácil “ser-se amigo”!...
Podemos estar disfarçados de boas intenções, mas a sociedade a que pertencemos, por vezes destrói a parte mais linda do sentido de AMIZADE!
Os verdadeiros amigos correspondem!
Os falsos amigos julgam!
2000 – Sábado – 25 / Março... O concelho de Seia, perdia no sentido lacto da verdadeira amizade, um bom amigo! Um viandante de espírito com plenitude em todas as suas experiências, completo de humanismo e humildade, sem segundas intenções! Acreditava na vida, são, claro, transparente.
Possuía um coração alegre como o das crianças.
Perdia-se um homem íntegro!
Referir seu nome? Não valerá a pena! Acho que ficou bem gravado no coração daqueles em que tocou, ensinou, amou, ajudou, orientou... e sobretudo, criou! Saber recordar com alegria, embora com laivos de saudade, é essencial, faz bem à alma, tal como saber escutar o que nos transmitem, plenos valores humanos e boa-fé! Foi neste contexto que eu transmiti, toda a concretização da nossa caminhada, de crescimento, com toda a consciencialização, tudo o que ela me transmitiu, antes do fatídico 25/ Março! Parece incrível! Falou verdades! Dr. Sousa era um homem com que dava gosto partilhar momentos de convívio! Todo ele era um ser que, com o seu feitio sabia levar a “ água ao moinho”, à boa gíria beirã! Dinâmico, empreendedor, homem multifacetado... sabia tão bem ajudar a desenvolver a personalidade, a caminhada de crescimento para a consciência de pedagogia de afectos, a capacidade de amar, de ir ao encontro e de ser um verdadeiro amigo de toda a gente, que se dirigi-se a ele, sem pedir nada em troca! Simplesmente: dava-se totalmente! A amizade que ele cultivava não era pintada de hipocrisia, mas sim de uma viva lealdade, sinceridade e impressionante justiça solidária! Dotado de uma sensibilidade e afectividade, fazia-nos entrar em contacto num mundo de cores, pintadas com as suas sonoras gargalhadas! A maior parte das pessoas fala, mas não comunica! Fala, para desabafar, para se exibir, para se valorizar, para dominar, para controlar, porque está aborrecida, por hábito... porque a comunicação tem que ter alegria! Humilhação mata! Era assim, o amigo que todos nós ainda hoje recordamos. Porquê? Simplesmente pela sua característica de ser muito alegra! Na cabeça daquele menino, nascido a 11 de Janeiro de 1955, na bela aldeia de Torroselo... fervilhavam sonhos, tantos sonhos, desde criança. De feitio irrequieto... acho que consegui tudo! Porém, no período mais feliz da sua vida, como uma “bomba”, da qual ninguém espera... desapareceu!
Recordar o passado com tristeza? Não!
Vou sim, tirar... a mais bela história de humanismo, não só para mim, como para todos! Além de tantos estatutos sociais, refiro-me ao de um bom pedagogo... que deixou o seu sonho construído! Como ele amava esse sonho! Como o conduzia! Acho que não há ninguém que se esqueça de todos os seus objectivos, na família que queria que fosse a Escola Evaristo Nogueira! Vamos viver agora a realidade! Com a mesma alegria, os mesmos pontos de comunicação, as mesmas ou parecidas fontes de mensagens, de bom senso e sobretudo adquirir pontos de referência! Sermos todos, aquilo que ele tanto desejava! Acho que só assim, somos todos gratos à lição de moral que ele deixou a todos! Não haja diferenças, mas sim fraternidade! Amizade! Alegria que sempre existiu...Que importa que sejam outros viandantes? Os tempos passados podem-se transmitir... aos presentes! Dar a conhecer a todos: professores – alunos – funcionários, numa linda história de vida humana e de humildade, quem foi o Dr. Manuel de Almeida Sousa!
Para ti: Manel – Dr. Sousa – Sousa – Mié – Manelito – como lhe queiram chamar, estamos aqui, com toda a alegria no coração, a lembrar as tuas anedotas simpáticas, o teu abraço fraternal, o teu nunca saber dizer “não”... com saudades! Dentro das nossas capacidades, vamos tentar levar o teu sonho em frente! Com dignidade, justiça, paz, fraternidade! Oxalá consigamos todos, de mãos unidas, sermos capazes de respeitar os teus pedidos, os teus desejos!
Humilhar? É o acto mais perverso que um ser humano pode levar a cabo. É a expressão mais terrível da não-amizade! É destruir! Cria silêncio, vazio, numa completa ausência de amizade!
A verdadeira amizade, é acima de tudo, respeito!
Se houve erros... nesta caminhada, sem ti!? Raio! Deixaste-nos tão desorientados! Até tu... saíste de casa, tão desorientado! Recordarei sempre os teus diálogos. Sérios em demasia, como alertas... para o que me iria acontecer! Falaste verdades! Não vamos ser justiceiros! Vamos sim, hoje...por curiosidade... 25 de Março de 2006... outro sábado... recordar com alegria sentida, com todo a teu verdadeiro sentido de amizade, tudo o que nos ensinaste! Como uma ajuda enorme, para todos podermos viver o presente! Que é bem difícil!
Fazer da tua escola (falo no singular, sem maldade!) aquilo que tu desejarias que fosse! Fazer da Escola Evaristo Nogueira uma escola que todos respeitem: quem por lá passou, quem passa..., quem passará! (se bem que tu querias um corpo docente estável. Uma família!) É essa, a verdadeira alegria, homenagem que hoje, eu...aqui te quero prestar! Não só em meu nome e de nossas filhas – (Taia e Janas) – mas sim em nome de todos! Da escola! Somos todos seres humanos! Cheios de Saudades! Se todos te recordarem com os mesmos ensinamentos... nunca morrerás! Nunca!
Sabes que mais?
Hoje... sabia bem... ouvirmos as tuas gargalhadas ao som de uma bela anedota... à moda do “Manel Sousa”!
Mila Sousa

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O texto é da autoria de Mila Sousa, esposa do Dr. Manuel Almeida Sousa.