28/07/2008

Entrevista com...João Viveiro

ENTREVISTA EXCLUSIVA

SEIA e o Concelho em análise


Luis Silva (LS) – O que o levou a criar um blogue?
João Viveiro (JV) - Apesar da definição de blog não ser consensual, penso que a maioria das pessoas (blogers) utiliza esta plataforma informática como uma espécie de diário virtual de características personalizadas onde, sobretudo, expressam e partilham com os outros a sua visão do mundo, das pessoas e das coisas, através das respectivas análises e reflexões e, por isso, mais que um instrumento transmissor de notícia ou de informação é, seguramente, o mensageiro do resultado da análise individualizada, noticiosa ou não, que veicula a opinião do próprio bloger. Neste sentido um blog é livre de difundir qualquer tipo de conteúdo e este ser utilizado para os fins mais diversos. A grande vantagem das ferramentas dos blogs é permitir que os seus utilizadores publiquem o resultado dos seus conteúdos sem a necessidade de serem técnicos ou possuírem conhecimentos profundos de informática, mas sobretudo, a infinita capacidade de divulgação desses conteúdos. No caso em apreço, o blog “Civitas Sena”, mais do que a informação ou a notícia em si, o blog veicula a minha própria visão sobre essa informação ou notícia e o meu entendimento sobre estas, no contexto do mundo que me rodeia e ao qual nunca me coibi de dar sempre o meu ponto de vista, ou de dizer “aquilo que me vai na alma”.

LS – Considera que Seia é hoje mais divulgada a nível nacional e internacional devido á existência dos blogues que por cá proliferam?
JV -
Sim, seguramente, sem qualquer dúvida, pois a informação, ainda que do ponto de vista individual, fica apenas à distância de um clique daqueles que impedidos pela distância física permanecem, (virtualmente) próximos daqueles que teimam em permanecer por cá. Só quem está distante sabe o valor que têm as notícias da sua terra.

LS – O que faz falta no concelho de Seia?
JV - Em primeiro lugar o que faz falta a Seia é, sobretudo, “massa crítica” capaz de congregar todos os munícipes em torno do bem comum, seja na cidade ou no concelho e permitir encontrar respostas aos problemas das populações com eficiência, com equilíbrio e com participação democrática naquilo que vulgarmente se chama poder local. Para isso é necessária gente com capacidade de mobilização, o que nos concelhos do interior vai cada vez mais escasseando, pois é sabido que as sociedades mais avançadas são, seguramente, aquelas que possuem mais massa crítica!..

LS – Sendo uma região eminentemente turística o que faz falta á Serra da Estrela para de uma vez por todas ser vista como prioridade de investimentos nesta área?
JV - A nossa região é, por dádiva da Natureza, uma região privilegiada para promover um turismo de qualidade ambiental, durante os 12 meses do ano, apresentando-se como uma alternativa natural aquele turismo sazonal, que se desenvolve nos oitocentos quilómetros de costa, durante cerca de três meses de Verão. Nesta matéria não queria ser repetitivo mas é também a falta de “massa crítica” que tem condicionado a falta de iniciativas do sector privado, na procura de respostas a este modelo de desenvolvimento sustentado. Apesar disso é de louvar o esforço de alguns, poucos, empresários desta área e da própria edilidade, na promoção desta “indústria do futuro”, (como é o caso, entre outras, dos diversos espaços museológicos e do CISE); mas é preciso fazer mais, muito mais ainda, nomeadamente, na sólida implementação de uma actividade de restauração de referência, (diria mesmos de excelência gastronómica) com muita qualidade, baseada em produtos autóctones, tradicionais, tais como: o borrego/cabrito, passando pelos enchidos, pelo queijo da Serra e os outros produtos lácteos, pelo pão, pelos bolos tradicionais, pelos doces, pelos vinhos, que possam fidelizar as pessoas que nos visitam e, sobretudo, divulgar a grande qualidade dos produtos com a marca Serra da Estrela. No que concerne à acomodação também se verifica algum défice de qualidade e quantidade, havendo, seguramente, espaço para a criação de mais complexos turísticos, (não apenas dormidas como oferta) com projectos turísticos que incluam pacotes com programas de visitas guiadas, viradas para o Ambiente e o Património construído, mas também a animação turística e de lazer, tratamentos de saúde, de beleza ou outras. Actividades de tal maneira impulsionadoras que no final da estadia motivem fortemente os turistas a voltar e a trazer os seus amigos na próxima oportunidade. Uma coisa é garantida: ainda que as acessibilidades não sejam as melhores, se existirem assuntos de interesse ou referências fundamentais, as pessoas vão até “ao fim do mundo” para as vivenciar. Para o confirmar basta que cada um de nós se recorde de quantas vezes nos deslocámos já, para desfrutar de tanta coisa que amigos nossos nos referenciaram e muitas das quais nos impeliram decididamente a repetir. Essa sim é a melhor publicidade que a nossa região pode fazer: inovação com qualidade, simpatia, preço justo e, sobretudo, autenticidade das pessoas e dos produtos.

LS – Acha que faz falta um festival de música nesta região à imagem do que acontece nesta altura do ano noutras localidades? Se sim, porque considera que nunca se realizou nenhum?
JV - Na sequência do ponto anterior concordo em absoluto com toda a actividade que possa contribuir para a promoção da marca Serra da Estrela, no entanto há que ter em conta não só as condições mas também o contexto e, por isso mesmo, depende sempre do publico-alvo. Assim sendo se o público-alvo forem os jovens à semelhança de muitos outros festivais que se realizam por esse país fora durante o Verão, é fundamental que sejam criadas as condições mínimas de higiene e salubridade bem como capacidade de resposta às necessidades de alimentação e de acomodação e de animação desses jovens durante esses dias para que a estadia desses jovens seja revigorante e vá além dos dias do festival. Do contexto, é fundamental a existência de um bom Parque de Campismo, servido preferencialmente por um rio despoluído ou piscinas para os jovens se banharem, apoiado por estruturas e logística capazes de dar resposta às centenas e centenas de jovens que nos visitariam, mas sobretudo, que gostaríamos que nos continuassem a visitar nos anos seguintes. Talvez pela inexistência de tudo isto e pela falta de tudo resto ainda ninguém tivesse tido, até agora, a coragem de avançar,mas acredito que depois de criadas as condições necessárias, seria uma excelente aposta!

LS – Ao nível político. Enquanto deputado municipal acha que o concelho está a ter o desenvolvimento que deve ter, ou, há mais para fazer e o quê?
JV - Muito tem sido feito, mas haverá sempre algo a fazer… Basta recordar que quando vim para Seia em 80/81 esta laboriosa localidade era uma pequena vila de província, quase sem desemprego mas sem grande qualidade de vida também. Apesar das reivindicações (poucas) das pessoas, as ruas que continuavam esburacadas exigiam perícia dos condutores e a inexistência de passeios promovia um jogo de destreza entre viaturas e peões que só visto. Até à realidade dos nossos dias foi um longo percurso em direcção a alguma qualidade que, indubitavelmente, já existe na sociedade senense. Havendo seguramente muito que fazer ainda, seria injusto não pôr em evidência o bom trabalho levado a cabo nos últimos mandatos da edilidade que além de promover o conforto e a qualidade de vida do munícipes, tem também criado condições de desenvolvimento e criação de empresas no concelho, revelando algum dinamismo e influência perante o poder central. Estamos no bom caminho, no entanto há que saber responder aos novos desafios que se colocam no futuro próximo e, a novos modelos de desenvolvimento que promovam sustentabilidade. Neste sentido o trajecto até agora percorrido é mobilizador do percurso que nos irá catapultar nos trilhos do futuro.

LS – Considera este modelo de FIAGRIS o mais adequado?

JV - Caro Luís, nesta matéria sou absolutamente pragmático, mudava quase tudo. Passo a explicar: a FIAGRIS deve ser aquilo que a realidade do concelho de Seia reflecte, com todas as suas virtudes e até defeitos. Assim, além de reflectir a realidade económica social e cultural do concelho, a FIAGRIS deve ser o grande acontecimento anual que congregue todos os senenses do concelho e da diáspora; o grande reencontro anual da família senense que gosta de se rever na sua terra revivendo-a com os seus amigos, durante a semana da sua realização. Além da mostra económica, social e cultural, esta festa deve promover o concelho, no seu todo, dando oportunidade a que cada freguesia se sinta representada no que tem de melhor, na cultura associativa, na gastronomia, etc. Durante essa semana, verdadeiramente de festa, cada conjunto, (mini-região) de quatro freguesias deveriam fomentar um dia de animação promovendo aquilo que têm de melhor catapultando na sede do concelho a verdadeira génese das suas raízes culturais, acreditando que muita gente das restantes 25 freguesias se deslocaria para acompanhar e apreciar o que estas apresentariam. Seriam, no mínimo, sete pavilhões que representariam durante essa semana, todo o concelho de forma auto-sustentada e autêntica. Esta seria a grande festa anual do concelho e como grande festa que seria, deveria ser enquadrada dentro do feriado municipal, devendo o seu calendário ser deslocado, necessariamente, para a semana que englobasse o dia 3 de Julho. Mais pragmático que isto não poderia ser, de tal modo estou convicto do enorme sucesso que seria este modelo organizacional das sinergias do nosso concelho.

LS – Quais os caminhos que aponta para combater a desertificação na nossa região?
JV - Já o escrevi diversas vezes. Só há uma forma de combater este maldito e ostracisante anátema que nos persegue. Regionalizando. O referendo foi verdadeiramente uma oportunidade perdida, pois estamos bem pior do que estávamos que nessa altura. Acredito que a maioria das pessoas que foram contrárias à regionalização são favoráveis à descentralização e a uma maior eficácia na Administração da coisa pública, porque compreendem que há decisões públicas que seria melhor serem tomadas ao nível local do que pelo Governo Central. A regionalização é um factor de democratização a todos os níveis de poder político. Desde a Junta de freguesia aos órgãos de soberania, a regionalização é um instrumento que favorece a democracia participativa. As decisões que deveriam ser tomadas pelos autarcas locais ou regionais, são definidas na Administração Central, por pessoas que dispõem de poder para isso, sem que para tal tenham sido eleitos. Com a regionalização essas decisões passariam a ser tomadas por autarcas com legitimidade democrática directa que decorreria da sua eleição por sufrágio universal, autarcas esses que responderiam directamente perante as populações que os elegeram que, em caso de insatisfação com o seu desempenho, poderiam votar a sua substituição em próximas eleições.

LS – Por último. Quais os seus blogues de referência? Porquê?
JV - Quando há tempo devo referir que, de uma maneira geral, dou um “vista de olhos” a alguns blogs locais, nomeadamente o teu, do Mário Jorge, do Luís Monteiro entre outros, havendo outros que de quando em vez me detenho um pouco mais a ler algum artigo que se salienta, isto se me sobrar tempo de algumas leituras das notícias dos jornais on-line.

Sem comentários: