Camilo José Ambrósio Pereira Coelho – o ex-gerente do Banco Totta & Açores de Seia, que em Setembro de 2003 fugiu para o Brasil após uma burla de dez milhões de euros à instituição – vai ser repatriado esta semana para Portugal. Poderá ser condenado a 12 anos de cadeia por fraude, falsificação de documentos e lavagem de dinheiro, diz o pedido de extradição emitido pelas autoridades portuguesas.O ex-bancário, de 42 anos, andou fugido à Justiça portuguesa durante onze meses, até que a PJ emitiu um mandado de detenção internacional. Acabou por ser apanhado, em Agosto de 2004, na cidade de Maricá, Rio de Janeiro.Quando a Interpol o localizou, Camilo Coelho preparava-se para casar. Sabia que a legislação não permitia a extradição de cidadãos brasileiros ou casados com brasileiros. Se casasse com uma brasileira, não o podiam obrigar a regressar a Portugal, onde deixou a mulher – professora e então deputada municipal pelo PSD – e a filha de oito anos.O burlão ficou preso na cadeia Ary Franco. Inicialmente, foi anunciado que o seu processo de extradição demoraria entre 18 a 40 dias. Mas o advogado do ex-gerente bancário, Marco Antônio Gouvêa de Faria, alegou “ausência de provas da sua participação nos delitos ora examinados”. O pedido de renuncia à extradição, por parte da defesa, não foi aceite pelo Supremo Tribunal Federal, que ordenou a extradição na passada semana.A fuga de Camilo Coelho começou logo após o Banco Totta & Açores de Seia, onde era gerente, o ter dispensado das suas funções por suspeitar de irregularidades. As suspeitas confirmaram-se e a entidade bancária apresentou queixa-crime.Durante os quatro anos que ali trabalhou, Camilo Coelho, considerado por todos um excelente profissional, aliciou advogados, comerciantes, construtores , todos clientes ‘endinheirados’, a aplicar o dinheiro em produtos que o banco geria no estrangeiro. Depois desviava o dinheiro para a sua conta: somou dez milhões de euros.
REGRESSO BEM ACEITE
Se chegasse hoje a Seia, o gerente bancário acusado de fraude financeira “seria bem recebido por todos”, afiança um morador que tem acompanhado o processo. Logo que foi descoberto o alegado desfalque, o Banco Totta & Açores assumiu as suas obrigações perante os clientes que estavam documentados em relação às importâncias entregues na instituição. “Os que não tinham documentos, calaram-se e não falam mais nisso”, adiantou. Como o bancário sempre gozou de boa reputação junto dos habitantes de Seia, “não há um sentimento de revolta”. Caso ele venha a ser julgado no Tribunal da cidade, “poderá haver concentração popular, mas apenas por curiosidade”, concluiu.
in - Correio da Manhã, edição de 28 de Fevereiro de 2006
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