22/07/2008

Entrevista com...José Dias Pinto

ENTREVISTA EXCLUSIVA

FREGUESIA DE CABEÇA em análise

Luis Silva (LS) - O que o levou a criar um site sobre a sua Freguesia de Cabeça?
JP - Como sabe, nasci em Cabeça, uma aldeia típica de montanha, escondida nas lombas do Vale de Loriga. Embora residindo em Seia, mantenho uma relação de apoio à povoação. A criação do site cabeca.no.sapo.pt é um projecto pessoal. Tem como objectivo divulgar a história da freguesia, desde o primeiro povoamento até aos nossos dias. É um trabalho inédito, com muitas horas de pesquisa documental e bibliográfica, entrevistas, livros de actas, fotos, correspondência particular e oficial recolhidas em Cabeça, Loriga e arquivo municipal de Seia. Cabeça tem uma história riquíssima de originalidades. Havia episódios desconexos, relatados pela tradição, em risco de se perderem. A maior aposta foi confrontá-los com fontes documentais. Descrevê-los sucintamente, é outro desafio. Divulgá-los em tempo real, é fantástico! Há uma secção de “notícias”, onde anuncio as actualizações do site e divulgo as notícias da povoação consideradas oportunas.
LS - Considera que o Concelho de Seia em geral e Cabeça em particular é hoje mais divulgado a nível nacional e internacional devido à existência dos sites e blogues que por cá proliferam?
JP - Há no concelho um lote de blogues de grande qualidade, na área da intervenção social, cultural e política. Constituem uma afirmação de verdadeira cidadania. Influenciam os órgãos do poder e condicionam a vida comunitária. É o verdadeiro contraditório entre a versão oficial e a visão particular dos factos. Não tenho dúvida que as mais insuspeitas figuras gostam de lá espreitar. A aposta do seu blog neste ciclo de entrevistas é uma prova dessa vitalidade. Os blogues são, porém, uma arma perigosa, se usada indevidamente. Um julgamento social injusto é tão iníquo quão devastador. Há pessoas que nunca mais são gente! A freguesia de Cabeça é, hoje, muito mais conhecida mercê do site cabeca.no.sapo.pt. Por exemplo, hoje toda a gente sabe que o proeminente político Dr. António de Almeida Santos é natural desta freguesia. Há poucos anos, muita gente escrevia que ele tinha nascido em Vide, em Seia e até em Loriga. Hoje ninguém tem dúvidas. Se visitar a página “Personalidades”, encontrará a síntese curricular do referido político mais actualizada da Net, servindo de referência a inúmeros cibernautas. A fotomontagem da imagem do Dr. Almeida Santos, constante do site oficial do partido socialista, foi extraída da nossa página, o que muito nos honra. (
http://www.ps.pt/index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=13&Itemid=37)
LS – Sendo uma região eminentemente turística, o que faz falta à Freguesia de Cabeça para atrair ainda mais turismo?
JP -
Falta uma estrada ribeirinha entre Cabeça e Loriga. Este investimento viria revolucionar completamente o turismo das duas povoações. A Ribeira de Loriga é um diamante por lapidar no concelho de Seia. Os açudes, os moinhos de água e as casas de xisto das quintas do Serapitel, Fontanheiras, Coratão, Várzea e Feiteirinha, ao longo da ribeira, são um tesouro. Sem um bom acesso ao que as aldeias têm de melhor, ninguém lá vai. Fazer de Cabeça apenas um sítio de caminhadas, pouco resolve. Ninguém lá investe. O único acesso à Cabeça pela Portela do Arão é um erro estratégico que prejudica as freguesias de Loriga, Cabeça e Vide. A viajem entre Cabeça e a Portela do Arão é um grande pesadelo!
LS – O que está bem feito em Cabeça e quais os grandes problemas que ainda persistem?
JP - A Junta de Freguesia de Cabeça tem sido constituída por equipas extremamente jovens, com projectos que assentam nas novas tecnologias, preservação do património cultural, ambiente, desporto e apoio social. O saneamento básico, o Centro de Dia com apoio domiciliário, a Internet wireless gratuita a toda a população, a preservação do espólio do artesão João Marques Ascenção, o restauro dum edifício para a sede da Junta, a reparação da Levada Comunitária e o reforço do abastecimento de água são alguns dos muitos factores positivos implementados. Está, agora, em marcha uma candidatura aos fundos comunitários para a criação dum Centro de Interpretação da Aldeia de Cabeça, num edifício típico da povoação. A construção duma praia fluvial e respectivos acessos é um grande objectivo que as várias juntas de freguesia não conseguem concluir, por falta de apoio financeiro. Cabeça aguarda, pacientemente, a reabilitação urbana que lhe foi prometida. Em 7 de Novembro de 2004, o senhor Presidente da Câmara, Eduardo de Brito, realizou na freguesia uma Presidência Aberta, no decorrer da qual apresentou um projecto de reabilitação muito ambicioso, executado pelo Arquitecto Miguel Krippahl. Em 26 de Junho de 2007, após concurso público, a Câmara Municipal aprovou a adjudicação dos trabalhos a uma empresa da Anadia. Até hoje, ninguém apareceu para iniciar os trabalhos. Alguém tem de levar um cartão amarelo!
LS – Como vê hoje a situação actual de Cabeça no panorama local e concelhio?
JP -
À semelhança de muitas outras aldeias, Cabeça tem uma população envelhecida e sofreu um processo de desertificação acelerado. Parte da sua gente migrou para a região de Lisboa. Na década de 70 houve uma debandada para a sede do concelho, onde variadíssimas famílias construíram as suas habitações, educaram e mandaram estudar os filhos. Outros emigraram para os países da Europa Central. Com o declínio da indústria têxtil no concelho de Seia nos anos 90, houve um reforço dessa emigração. Os pontos negativos da freguesia prendem-se com os acessos, o desemprego e a falta de investimento na área do turismo.
LS – Ao nível político. Enquanto cidadão, acha que o concelho está a ter o desenvolvimento que deve ter, ou, há mais para fazer e o quê?
JP - Em democracia, é sempre legítimo questionar se outros não fariam melhor, porque não há insubstituíveis. No entanto, acho que é extremamente injusto negar ao actual presidente do município um grande leque de obra feita, com qualidade e gosto. O problema é que a oposição está hoje confinada a pequenos guetos partidários. Há um desinteresse brutal pela política. Há uma lamúria dispersa, mas ninguém se chega à frente! O achincalhamento gratuito dos políticos também faz ponderar muita gente. Seia é uma jovem cidade portuguesa muito conhecida. Em contactos informais pelo país, tenho concluído que a generalidade dos portugueses já esteve em Seia, alguma vez. A maioria guarda uma imagem bem positiva, elogiando a hospitalidade, a gastronomia e gabando-se de ter visitado o Museu do Pão, o Museu do Brinquedo e, agora, também o CISE. Curiosamente, acham que Seia é uma cidade turística onde gostavam de viver! Pela negativa, apontam os acessos e a falta de investimento no turismo de montanha, no percurso Seia-Torre. Se a anunciada construção dos eixos rodoviários da Estrela vier a realizar-se, o concelho dará um enorme salto qualitativo no plano turístico e na vertente empresarial. Será também uma vitória histórica do actual Presidente da Câmara que, como toda a gente sabe, lutou sozinho contra o cerco de um couraçado grupo de autarcas da região. Eduardo de Brito atingirá o pleno se, em simultâneo, conseguir a barragem de Girabolhos e levar à prática a prometida requalificação da baixa de Seia, junto à Ponte de Santiago. O pior é se o poder central lhe tira o tapete! Se estas obras não ficarem pelo papel, façam-lhe uma estátua! Se fracassarem, é altura de bater com a porta e sair por cima com um grande argumento! A elevada mediatização política do anúncio das obras assim o recomenda.
LS – Vem aí a FIAGRIS. O que representa para Cabeça esta feira? Vai haver algum stand da Freguesia nesta feira?
A FIAGRIS representa para a Cabeça um evento de festas populares, com artistas da canção, em primeiro lugar. A feira propriamente dita é relegada para segundo plano, em virtude de muitos produtos se não enquadrarem na génese do certame. Penso que a desejada retoma do crescimento económico do país impulsionará novas ideias por parte de toda a gente. As críticas que os senenses fazem à Fiagris são, infelizmente, comuns ao resto do país. Acabar com a Feira seria um erro. Que tal, mudarem-lhe o nome? A presença da freguesia de Cabeça na Fiagris era, antigamente, assegurada pelo artesão João Marques de Ascenção, com miniaturas de madeira. Após o seu falecimento, é o Centro de Apoio à Terceira Idade de Cabeça quem representa a freguesia, sempre que disponibilizado pavilhão para as IPSS.
LS – Por último. Fale-nos um pouco sobre as Instituições que existem na Freguesia.
As instituições que, a par da Junta de Freguesia, envolvem a comunidade, são as seguintes.
Associação do Centro de Apoio à Terceira Idade de Cabeça, Grupo de Apoio Social, Cultural e Desportivo de Cabeça, Núcleo Airsoft de Cabeça, Associação de Pesca da Cabeça, Assembleia de Compartes dos Baldios da Cabeça e, também, a Irmandade das Almas. Existe, ainda, o Grupo Musical “Som da Curte”.
O CATIC – Centro de Apoio à Terceira Idade foi o maior empreendimento social realizado na povoação, até hoje. Tem Centro de Dia, apoio domiciliário com alimentação, tratamento de roupa, higiene da habitação, cuidados médicos, etc. Não ficaria de bem com a minha consciência se não destacasse aqui o espírito de sacrifício e a capacidade empreendedora do Presidente da Associação, José Marques dos Santos. Com prejuízo da sua vida pessoal, dá tudo pela instituição.
O Grupo de Apoio Social e Desportivo da Cabeça
implementa várias actividades desportivas, nomeadamente a participação em torneios de futsal, provas de rolinfire, etc. O Grupo integra, ainda, o NAC – Núcleo Airsoft de Cabeça, único no distrito da Guarda.

1 comentário:

Tiago Dias disse...

Não posso deixar de dar os parabéns pela excelente entrevista aqui publicada e que mais uma vez honra a freguesia de Cabeça. O trabalho desenvolvido por José Dias Pinto na divulgação e, sobretudo na pesquisa e documentação da história da freguesia em que nasceu, trabalho exemplarmente compilado no site http://cabeca.no.sapo.pt de que é responsável, é digno de figurar entre os sites que mais contribuem para a divulgação da história e do património do concelho de Seia, uma vez que poucas freguesias dispõem de um trabalho de pesquisa da sua história, costumes e curiosidades, completamente acessível em todo o mundo e constantemente actualizado, facto ainda mais assinalável quando se trata de um projecto pessoal. Enquanto natural da freguesia aqui fica expresso o meu muito apreço pelo excelente trabalho realizado.