A administração da fábrica de calçado ARA desmente haver despedimento «colectivo e intensivo» na empresa de Seia. O PCP local denunciou segunda-feira que a unidade, de capitais alemães, terá rescindido contratos com cerca de 60 trabalhadores do sector das costuras desde a semana passada. Segundo José Mário Santos, antigo funcionário da empresa e elemento da concelhia comunista, suspeita-se que, até ao final do mês, possam estar em causa 200 postos de trabalho. «A pretensão da ARA é terminar com as costuras em Seia, um trabalho de produção intensiva, e transferir o fabrico de gáspias para a Roménia e a Ucrânia», refere o dirigente, adiantando que alguns funcionários desse sector já estiveram naqueles países a dar formação. Em contrapartida, vai ser aumentada em cerca de 25 por cento a capacidade da linha de montagem do sapato na fábrica de Seia, acrescenta José Mário Santos, para quem esta aposta da administração «não vai ter muito impacto» em termos de criação de emprego. O comunista refere que com estes despedimentos só vão continuar na unidade, situada às portas da cidade, «a secção das solas, quatro máquinas de corte e outras duas nas costuras, para além da montagem e do armazenamento de todo o produto acabado produzido em Portugal». O que, pelas suas contas, significa «talvez menos de 200 a 300 postos de trabalho», desconfia. José Mário Santos classifica a situação de «despedimento colectivo e compulsivo» e critica a actuação da administração da ARA, que acusa de não respeitar a dignidade dos trabalhadores dispensados «quando lhes entrega um cheque e comunica que no dia seguinte já não contam com eles». Em comunicado, o PCP vai mais longe nas críticas e sustenta ser «incompreensível que uma unidade fabril que foi apresentada ao Presidente da República em 2003 como a de maior produtividade do grupo ARA se veja agora na rampa inclinada do encerramento». Entretanto, o grupo parlamentar comunista na Assembleia da República questionou ontem o Governo sobre a «legitimidade» destes despedimentos e da deslocalização da produção. Para Seia está igualmente prevista a convocação de uma reunião extraordinária da comissão permanente da Assembleia Municipal para «obrigar a Câmara a tomar posição pública sobre este grave problema económico e social para o concelho». José Reina, assessor da administração da ARA, discorda destas acusações, mas admite quebras na produção: «Há de facto uma redução das gáspias fabricadas, mas que implica apenas a saída de 50 pessoas», garante, acusando os comunistas de «confundirem e baralharem» a opinião pública. «Mantemos os nossos sectores mais importantes, como o fabrico e o corte de rastos, palmilhas e solas para o grupo, para além de continuarmos a concentrar as exportações», adianta. Contudo, reconhece que a deslocalização está a acontecer «há anos», porque «é necessário tentar adaptar a nossa produção para manter os postos de trabalho em Seia». Aquele responsável acrescenta, por outro lado, que as propostas de «rescisão amigável» não são novidade na ARA e estão «acima da média», sendo da ordem dos 1,2 salários por ano de trabalho. «Muitos dos trabalhadores aceitaram logo», garante. A fábrica de calçado de Seia emprega actualmente 450 trabalhadores, mas com esta reestruturação conta reduzir a massa salarial para 400. O objectivo desta decisão é atingir uma produção de 840 pares de gáspias por dia e 4.200 pares completos de sapatos.
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